O meu Alentejo
Nem sempre o local que nos viu nascer, é o local onde vamos permanecer.
Por circunstancias da vida, somos conduzidos a partir através dos nossos pais ou não, para locais onde se tenta de alguma forma mais oportunidades de vida e, consequentemente melhor qualidade de vida. Foi exactamente o que aconteceu aos pais na sua juventude, de uma terra pequena onde todos se conhecem, onde todos dão os bons dias, partiram para a cidade completamente sozinhos, sem nunca perder de vista aquela terra onde um dia desejariam voltar, e, a verdade é que regressaram após anos por opção. No fundo, penso que nunca se identificaram com este meio mais citadino , e a sua vida foi gerida entre o trabalho do meu pai e as constantes viagens ao fim de semana para o Alentejo.
Cresci entre a grande cidade e o movimento característico da mesma e a paz do campo. Eu sou do tempo em os meus avós paternos tinham o campo como meio de subsistência, em que o pão, o queijo era confeccionado por si nos fornos antigos de lenha . Eu sou do tempo em que a minha avó se deslocava para a vila de carroça, em que a apanha da azeitona era motivo de convívio. E, embora eu ainda seja de uma geração relativamente jovem tive a oportunidade de conhecer o meio rural na sua essência por experiência pessoal e faz parte daquilo que sou enquanto pessoa. O amor que tenho pelos animais, nomeadamente, pelos cavalos foi-me incutido logo desde pequena e foi-me transmitido por gerações que o cavalo é considerado um animal nobre, de ajuda e que significa a liberdade que todos nós desejamos quando correm pelos campos.
Durante algum tempo, ignorei um pouco as minhas raízes, pelo próprio egocentrismo caracterizado pela adolescência em que estar com o grupo de amigos se torna prioridade e no recomeço da vida adulta em que julguei que o Alentejo, depois de terminar o curso nao teria mais nada para me oferecer.
Apenas depois de ser mae, em que reformulamos os nossos valores e as nossas prioridades, reconheci a importância de manter viva esta minha Terra em mim e dar a possibilidade de a minha filha também usufruir deste mundo. Saber que o leite não tem origem nos pacotes como lhe é apresentado na mesa, conhecer que a natureza é mais pura forma de contacto connosco próprios.
É preciso mais calma, mais compreensão, mais empatia, e nos grandes meios urbanos pelo desenvolvimento e pelos sacrifícios profissionais que são exigidos, as pessoas sofrem cada vez mais de desgaste emocional, stress, impaciência em coisas tão simples que por vezes criam discussões desnecessárias com desconhecidos.
No Alentejo o por do sol e o alcance da lua e das estrelas é mais visível de alcançar, e sem duvida consegue tornar-se mais deslumbrante. Tem uma magia que aqui é corrompida pelos prédios altos.
Tenho a certeza que a casa dos meus avós, dos meus pais será um dia o meu porto de abrigo.
Que nunca se esqueçam das vossa raízes!
Cuidem-se!